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quarta-feira, 27 de março de 2013

A FÁBRICA ANTONINENSE DE GOLEIROS (3)

  Excelência no gol 

       Eu não entendia como alguém escolhia ser goleiro e ficar naquela imensidão que é  o espaço entre as traves, onde todos os adversários e suas torcidas querem que a bola ultrapasse a linha dp gol dele. Gritam, xingam com eles e quando se ouve o lamento "Uuuuuh!",  são os goleiros que frustram as torcidas inimigas, depois de uma bela defesa. Mas, ainda continuava não entendendo, como alguém se sujeitava a treinar mais que os outros (o goleiro é o único que tem treinador exclusivo), ser injustiçado na maioria das vezes porque seu time tomou um único gol e se, seu time perder a partida, quase sempre ser escolhido como "culpado" por sua torcida. Esses caras, para mim, eram um misto malucos-heróis e eu tinha medo deles. Eram os donos da pequena área e mandavam em todos de sua defesa. Bola na área, por cima, eram sempre deles com seus braços compridos, por baixo, entravam com os joelhos, com os pés, muitas vezes, quase na altura do peito ou da da cabeça da gente. 
      Até receber um conselho que me orientou pro resto da vida como jogador de futebol, eles eram o meu inferno. "Se você tiver medo do goleiro, ele pressentirá e vai crescer à sua frente e você nunca vai vencê-lo. Mesmo que faça o gol, você não o derrota. Ele sabe que lhe intimida. Portanto, você só tem uma chance, como no momento de um pênalti. Quando entrar na área, levante a cabeça e esqueça a bola, pois ela está na sua visão periférica (o campo é verde e a bola é branca), portanto, olhe para o goleiro que ele para e o movimento que você fizer, a seguir, ele repetirá (a iniciativa passa a ser sua). Só então, poderá vencê-lo e ser respeitado por ele. 
Flávio
          Goleiros tranquilos e estilosos como Reinaldo, Bino, Jair Cruz, Cobertor, Ari, Pedrinho, Juri, goleiros voadores como Madeia, Iional, Mário Simão, Catita, entre outros, era bonito de ver e até os adversários aplaudiam, mas tinha goleiros que eram cruéis, que não perdiam viagem e não perdiam as divididas  e só os "tanques" como Quinco Simão, Juquinha Galinha, Harmíneo, Walter, é que enfrentavam esses goleiros. Subir de cabeça em um cruzamento com um goleiro Flávio ou Álvaro Gato, por exemplo, era um risco de vida. Eles subiam e davam um soco na bola (a maioria das vezes pegava a cabeça do jogador). Poucos atacantes dividiam essa bola com eles. Foram goleiros de muita personalidade e não eram estilosos, não jogabam pra torcida. Flávio, era alto e jogava mais "embaixo do gol" e quando saía, era pra ganhar a jogada. Jogou no 29 de Maio, por muitos anos e também no XV (onde vi jogar), além do Internacional, onde foi vice-campeão de 1958. Era o carteiro da cidade, junto com Arãozinho, dois grandes Amigos com quem convivi, adolescência e juventude. Com Flávio, tive uma oportunidade de sentir sua autoridade fora do campo. Seu filho Valdo, num 2 de novembro, Dia de Finados, resolveu jogar bola no campo do Batel e eu estava lá, também jogando contra um time de Paranaguá. Pois bem, o lateral deles arrancou um "tampo" de sua testa com a chuteira e sobrou pra mim para levá-lo ao hospital . Depois de remendado (9 pontos), quem iria levar o guri pro seu Flávio?  Até seu Onamar (que era seu vizinho) pipocou e eu que tinha só 17 anos, tive que enfrentar a fera. Ele foi educado comigo, agora, com Valdo, só ele pode dizer se o couro comeu ou não. Essa hora, eu estava longe.

Álvaro Gato
Como Mário Simão, Álvaro era um grande goleiro e também jogava de centroavante e dos bons. Vi muitas partidas em que ele fechou o gol do C.A. Batel, como também vi ele fazer gols decisivos na campanha do tetra-campeonato. Ali no Batel, todos se tratavam de "compadre. compadre Xisto, compadre Romário, compadre Lilinho, compadre Zizinho... Acho que só a geração de Macico, Cascalho, Duia é que não se tratavam assim. Quando vim morar novamente em Antonina, em 2005, aluguei a casa de Auzer, irmão de Onamar e ele era quase meu vizinho. Já andava meio abatido de saúde e sempre ficava tomando sol, na frente de suas casa. Uma tarde, peguei meu álbum com o acervo do Batel  e fui mostrar pra ele. Lembro que olhava cada foto (30 x 40 e colorizada) e dizia "mas que lindo essa, Marquinhos!" Passou a tarde olhando aquelas fotos e matando as saudades dos compadres, me contando alguns causos de sua história como jogador e me explicou a famosa história que Nêne Boca Rica (pai de Luiz pé de pano), bateu no árbitro num campeonato do Interior (que o Batel venceu, mas perdeu no tapetão da FPF e o Monte Alegre acabou ganhando o título), enfim, Nêne foi expulso pelo árbitro e (disse Álvaro), que ele saiu resmungando, mas nada mais que isso. Acontece, que quando ia passar por baixo da cerca, Fernando Buck que era o presidente, disse "..nem passe prá cá, antes vai lá e de uma porrada na cara daquele ladrão!" E Nêne, que não recusava uma boa briga, foi lá e arriou com o coitado.. E, Álvaro: "Ah, Marquinhos, eu juro pra você, que se compadre Nêne não fosse lá, quem ia lá era eu e dava-lhe uma bem no meio da testa. Ah, naquele tempo, ninguém me segurava". Bem, como Álvaro não era flor que se cheirasse jogando bola, eu acreditei.Nem precisava jurar...

Catita
Catita, esse era estiloso. Nos treinos, Mário Simão fazia uma ponte e ele fazia outra. Como disse em outra postagem sobre goleiros, o XV de Novembro sempre teve craques nessa posição. Tinha, ainda, Cobertor e Zeco. Até no 2º quadro, a briga era boa entre Josicler, Capim Seco e Baiacaca. Mas, Catita gostava de falar meio santista, quando eu chutava e ele pegava ou espalmava a bola e dizia: "Aqui, não, Major!" e quando eu fazia um gol, era o de sempre "Você é muito rabudo!" (muita sorte). Certa vez, em um torneio início em que o XV ganhou (1965), se o jogo terminasse empatado, o jogador tinha que bater cinco pênaltis seguidos e depois o outro tinha que fazer os cinco para empatar e seguir para três, dois, etc. Pois bem, o Jair Henrique fez os cinco e seu Onamar mandou que eu batesse. Eu treinava muito e o velhinho confiou. Nem olhava para o Catita, mas ele ficava falando "se bater no canto esquerdo, (dele) eu pego! Eu fui lá e bati no esquerdo e ele acertou o canto. No segundo, bati no mesmo canto e ele quase pegou. No terceiro, ele falou: "Tô falando, se bater aqui, eu pego." E, pegou. O XV foi o campeão do torneio início e larguei mão de bater pênalti por um bom tempo, pois aprendi que só quem fica no lucro é o goleiro. Bater pênalti é uma arte e muito, mas muito treinamento.

 José, veio do Matarazzo F.C. com Ferreira, Laertes, Deodato, Mário Cangalheiro, Walter e se tornou campeão antoninense de 1956 pela A.A. 29 de Maio. Era um goleiro tranquilo, seguro e se colocava muito bem. Não fazia alarde, era eficiente e não gritava com os companheiros, mais do que os alertas necessários que sempre sai do goleiro. A famosa frase "É minha!", era suficiente pra saber que a bola era dele. Saía pouco do gol, mas sua boa colocação, decidiu muitos jogos na campanha de 56. Onamar que diz: "José, era um baita goleiro." Ferreira, Laertes, Walter, sempre teciam muitos elogios sobre ele. Comentavam, que ele chegava, punha o material, entrava en campo e jogava. Terminava a partida, era aquela arruaça no vestiário e nem percebiam que José já tinha ido embora. 


    Juri, outro goleiro que era bonito de ver jogar. Lá no campo do Matarazzo ou lá no campo do 29, fizemos grandes confrontos. Era um goleiro rápido, ligeiro e muito difícil de fazer gol cara a cara com ele. Parecia um gato, sempre tinha a impulsão necessária para fazer a defesa. Jamil dizia, que eu deveria entrar na área e já chutar, pois se deixasse que ele chegasse, ele saía nos pés do atacante e não se deixava driblar. Ele era muito educado e uma pessoa simpática. Nunca mais o vi e gostaria de saber dele. Juri, era maquinista do trem do Matarazzo e foi protagonista de uma história incrível, mas não como goleiro. Contam, que um belo dia ele foi fazer uma ré com o trem e não é que a máquina e o vagão que puxava, cairam no mar?!   

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